quinta-feira, 4 de junho de 2020
Pensamentos pandêmicos
Autora: Daniela del Sole.
Conte-me mais sobre o tempo em que havia aprendizagem na escola periférica e o grande empecilho foi a pandemia do novo Coronavírus. Aproximadamente 22:00 e eu chorava não só com o número de mortes, mas eles já estavam lá, tentando conciliar os estudos com o trabalho, antes mesmo dessa pandemia. Antes das mobilizações por cesta básica eles já morriam de fome, de cansaço, de desgosto e de tristeza. Hoje eles me explicam que não conseguem ... eles não podem mais viver. E existe uma luta para acabar com o ano letivo. Pensemos: se as relações educacionais, algumas boas, deixam de existir, muitos deixam de acessar, de tentar buscar para conhecer, de experimentar, de explorar, de aprender a aprender e de saber da existência de um outro mundo com outras escolhas. Por que a luta não é para liberar o acesso à internet nas periferias e o wi-fi para todos? Por que, além de cesta básica, não pensamos em providenciar meios menos desiguais garantindo aos que não tem, os meios e a estrutura mínima para diminuir o abismo social que já existia antes da pandemia? Quem ganha o quê com o cancelamento do ano letivo? Faz uma pausa em tudo e diz: você – jovem – periférico – que nunca teve acesso a nada na sua casa – que só fez inscrição no enem porque o coordenador ajudou, pediu, implorou – viva sozinho com a pandemia aí na sua casa, sem acesso à internet – cancela o ano – ano que vem você começa de novo – quem ganha com isso? Não se inscreva no Enem esse ano – Não coloque na sua ficha do primeiro emprego: ensino médio concluído. Que diferença faz ter ou não esse certificado? Algum dia fez alguma diferença? Quem assina esse bilhete acessa a internet de casa, do celular... quer se informar, se mantém na rede, o tempo todo... e quer que o outro nem tente, nem acesse, por certos segundos – sem o consumo de dados - nem lute para ser! Mantém quem já era excluído como está. Pára tudo. Acaba com o ano letivo. Estátua! Abrem – se as cortinas e eles voltam. Aqueles que fizeram a inscrição para o Enem sozinhos, estão traçando suas vidas; aqueles que já eram autônomos, estão mais espertos e ágeis; aqueles que já eram informados, estão ainda mais; aqueles que, inclusive, tinham um posicionamento contrário ao governo, agora querem se organizar, se mobilizar e entendem mais de cidadania; e a pandemia trouxe a redução de estudantes por sala; e parece que a gente aprende melhor. Só que é como se estivéssemos no Brasil colônia e tem que explicar de novo que a terra é redonda e é pra girar. E eles são escravos famintos que trabalham na entrega de comida aos que estão acessando seus apps para viagens astrais. E nas periferias, agora – desmascarados, ainda tem um pastor e um traficante de exemplo; e os jovens pensando no caminho que eles vão seguir. Segue o ciclo. Exclui mais.
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